Fertilizantes: prognóstico de estabilidade para as entregas

            As entregas de fertilizantes ao consumidor final no Brasil, em 2004, devem situar-se no mesmo nível do ano anterior, podendo até ocorrer ligeiro acréscimo, embora já se constate algum atraso e forte dependência do comportamento do mercado da soja (normatização quanto ao cultivo transgênico, por exemplo), a principal cultura nacional consumidora de fertilizantes.
            O consumo efetivo de fertilizantes no Brasil alcançou 22,356 milhões de toneladas de produto (recorde de quantidade) em 2003, acréscimo de 16,7% frente às 19,164 milhões de toneladas de produto entregue no ano anterior. A soja foi a cultura que mais demandou adubos, com a quantidade consumida estimada em 8,428 milhões de toneladas de produto (37,7% do total). Em seguida, aparecem milho (18,3% do total), cana-de-açúcar (11,6%), café (6,2%) e algodão herbáceo (4,2%). Essas cinco culturas perfazem 78% da quantidade consumida em 2003. O consumo de fertilizantes cresceu na maioria das culturas, com destaque para arroz (42,5%), trigo (30,4%), soja (25,2%) e milho (23,5%), segundo estimativas da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA).
            Constatou-se acréscimo nas entregas de fertilizantes ao consumidor final nas regiões Centro (20,3% de incremento), Sul (12,3%), Nordeste (21,2%) e Norte (39,6%), de acordo com o critério de regionalização do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas (SIACESP). O maior volume de comercialização ocorreu na maioria dos estados brasileiros, com exceção de Espírito Santo, Amazonas e Acre.
            O Estado de Mato Grosso respondeu pela maior quantidade das entregas de fertilizantes em 2003, com 4,245 milhões de toneladas (aumento de 34% em relação ao ano anterior), representando 18,6% das entregas totais. Em seguida, figuram São Paulo (14,5%), Paraná (13,5%), Minas Gerais (12,1%), Rio Grande do Sul (11,6%) e Goiás (9,5%) (tabela 1).
            A partir da década de noventa, São Paulo tem perdido participação no total das entregas, que declinou de 31,4% para 14,5% no período, apesar de as entregas de fertilizantes no Estado terem crescido de 2,585 milhões de toneladas em 1990 para 3,296 milhões de toneladas de produto em 2003. Em contrapartida, aumentou a importância do Mato Grosso no mercado, com evolução de 4,8% para 18,6% entre 1990 e 2003.
            A comercialização de fertilizantes em 2003 manteve o típico padrão sazonal, com a concentração das vendas no segundo semestre, simultaneamente ao plantio das culturas de verão que recebeu 65,7% do total entregue (figura 1).

Figura 1 - Fertilizantes entregues ao consumidor final, Estado de São Paulo e Brasil, Janeiro de 2002 a Julho de 2004

            Na quantidade total de fertilizantes entregues no Brasil, a participação das formulações granuladas, em pó e mistura granulada foi de 74,3% e a dos fertilizantes simples, de apenas 25,7%.
            A produção da indústria nacional foi de 9,24 milhões de toneladas de produto em 2003, quantidade 14,5% superior ao registrado no ano precedente. Observaram-se incrementos nas quantidades produzidas, em termos de nutrientes, dos fertilizantes fosfatados (21,3%) e potássicos (3,7%), enquanto se verificou decréscimo nos nitrogenados (6,7%). No caso das matérias-primas para fertilizantes, constatou-se maior produção, com exceção da amônia (queda de 10,3%).
            Também as importações brasileiras de fertilizantes apresentaram acréscimo de 40% frente a 2002, somando cerca de 14,679 milhões de toneladas de produto. O SIACESP estima dispêndio de divisas com produtos intermediários para fertilizantes de US$1,71 bilhão/FOB e, no caso das matérias-primas para fertilizantes, em torno de U$303,87 milhões/FOB, no total de US$2,02 bilhões/FOB (inclui usos não fertilizantes). Os preços dos fertilizantes importados em 2003, na média, situaram-se, por tonelada, em US$132,40/FOB.
            As exportações brasileiras de matérias-primas e produtos intermediários para fertilizantes somaram em torno de 696,9 mil toneladas de produto, com valor de US$123,80 milhões/FOB. Os principais insumos exportados foram misturas de fertilizantes, amônia anidra e uréia.
            Nos primeiros sete meses de 2004, as entregas de fertilizantes no País totalizaram 10,21 milhões de toneladas, praticamente o mesmo nível do ano anterior (acréscimo de 0,5%). Constatou-se incremento nas vendas em alguns estados como Mato Grosso (14,5%), Mato Grosso do Sul (12,2%), Bahia (23,5%) e Rio Grande do Sul (5,0%). Porém, diversos estados mostraram retração nas entregas como São Paulo (12,3%) e Goiás (9,8%).
            O Estado de Mato Grosso foi o que absorveu maior quantidade nas entregas (21% do total), seguido de Paraná (16,6%), São Paulo (12,9%) e Rio Grande do Sul (11,8%) (tabela 1).

TABELA 1 – Entregas de fertilizantes ao consumidor final, por Região e Estado, Brasil, 2002-04
(em mil toneladas de produto)

Região e Estado
2002
2003
Jan.-jul./03
Jan.-jul./04
Região Sul . . . .
Rio Grande do Sul
2.349.530
2.646.150
1.146.401
1.203.727
Santa Catarina
597.963
663.950
373.955
313.152
Subtotal
2.947.493
3.310.100
1.520.356
1.516.879
Região Centro . . . .
Distrito Federal
55.586
60.988
28.826
25.761
Espírito Santo
267.161
222.911
93.456
93.027
Goiás
1.754.184
2.165.259
828.250
747.442
Mato Grosso
3.167.294
4.245.324
1.858.458
2.128.846
Mato Grosso do Sul
847.214
1.127.645
562.022
630.687
Minas Gerais
2.387.234
2.758.470
923.533
843.993
Paraná
2.512.515
3.087.194
1.753.047
1.696.886
Rio de Janeiro
46.569
58.458
30.659
21.535
São Paulo
3.151.215
3.295.939
1.502.895
1.318.695
Tocantis
97.293
162.642
38.438
52.581
Subtotal
14.286.265
17.184.830
7.619.584
7.559.453
Região Nordeste . . . .
Alagoas
214.236
257.234
153.820
129.205
Bahia
988.778
1.155.215
436.746
539.364
Ceará
25.963
34.152
19.518
19.998
Maranhão
183.214
248.639
76.841
128.454
Paraíba
43.512
50.871
35.594
29.712
Pernambuco
168.996
201.500
131.316
111.399
Piauí
63.371
93.284
26.401
38.463
Rio Grande do Norte
47.099
54.634
36.516
26.134
Sergipe
24.193
36.612
17.037
7.762
Subtotal
1.759.362
2.132.141
933.789
1.030.491
Região Norte
121.148
169.161
88.751
103.351
Brasil
19.114.268
22.796.232
10.162.480
10.210.174
Fonte: Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA-BRASIL), Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas, no Estado de São Paulo (SIACESP), Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul (SIARGS) e Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos do Nordeste (SIACAN).

            De janeiro a julho de 2004, observou-se queda do poder aquisitivo na compra de fertilizantes para diversos produtos agrícolas (como laranja, cana-de-açúcar e feijão), resultado do aumento de preços dos fertilizantes e da queda nas cotações e conseqüentemente nos preços recebidos pelos agricultores.
            A produção da indústria nacional de produtos intermediários para fertilizantes registrou aumento de 14,7% no referido período, para 5,437 milhões de toneladas, com incremento, em termos de nutrientes, nos fertilizantes nitrogenados (8,1%) e nos fosfatados (18,5%). Também as importações brasileiras de fertilizantes aumentaram, no período, em 18,2% em relação ao ano anterior, perfazendo 8,491 milhões de toneladas. O cloreto de potássio foi o principal produto importado, respondendo por 41,5% das compras externas, seguido do fosfato mono-amônio-MAP (14,9%) e do sulfato de amônio (10,5%). No caso das matérias-primas para fertilizantes, registrou-se incremento de 12,6% no citado período.

Data de Publicação: 08/09/2004

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor